11 de março de 2014

Ana



Ana paralisou quando viu a imagem que a tela do computador exibia, num impulso desligou o computador abriu a porta, saiu correndo pra rua, havia uma gigantesca angustia comprimindo-lhe o peito e a garganta,perdeu o chão, encostou no muro levou as mãos a boca na tentativa de sufocar o choro, as lágrimas brotaram como pingos de chuva, respirou profundamente,engoliu o choro como fez tantas outras vezes no decorrer dos últimos meses e mergulhou num turbilhão de pensamentos:

Ela tão feliz na foto declarando amor a outro, o mesmo amor que tantas vezes declarou a Ana, em infinitas mensagens e telefonemas, no ápice do amor quando as duas almas se fundem e por alguns segundos tornam-se uma só.Como pode amar a dois tão avessos nas imperfeições, tendo em comum apenas a distinta dona do coração de uma, do outro, quem lhe proporciona todos os prazeres, ou será que os olhos de Ana lhe pregam peças? a tela do computador não a permite ver oque há por traz do sorriso com todos os dentes e olhar tão triste, a felicidade por ali celebrada tem ares de fachada, o último a dormi é gatuno vive a passear por outros tetos,metamorfoseando mulher inocentes vidas, ou sob o céu com a gata ou as gatas em qualquer telhado vagabundo.

A que dorme cedo talvez o faça na tentativa de não sentir a dor provocada por um talho que hora em vez desatina a doer e a sangrar, ela finge que não, diz que tudo isso é ardil, para continuar passando sem  o dissabor da lascívia insana de quem com ela dorme ,mas, ali na cama de olhos fechados fingindo dormir a femeá visita recentes lembranças de sinuosas,macias e perfumadas curvas em que tantas vezes se perdeu, deseja tanto e amiúde que na boca vem um doce sabor , e um cheiro de pele negra queimada de sol.Na tela do computador todo mundo é feliz, a vida parece menos amarga e se pode passar a  aparência que quiser.

Encostada no muro engolindo o choro, Ana desejou não amar tão visceralmente,desejou não querê-la para ser seu par e percorrer a estrada cristalina e serena da velhice,desejou não tê-la como artéria aorta que irriga todo o corpo e sem ela a existência é impossível. O telefone tocou, apareceu no visor um apelido carinhoso gravado ali ainda nos primeiros meses de envolvimento, andou em direção a casa. colocou o telefone na mesa,decidiu não atender, foi para o banheiro o telefone parou de chamar, arrependeu-se, voltou, retornou a ligação:

_ Alô!
_ Oi Meu bem?
_ Oi 
_Tudo bem com você?
_ Tudo ótimo


Carmen Lucia dos Santos Ribeiro

9 de março de 2014

A casa nº 11


A casa n-º 11 acostumou-se a receber uma cálida visita nas escaldantes tardes de B-R-O-BRÒ, a rua sempre vazia, ao menor movimento um curioso sorrateiramente colocava a cara na janela como que ansioso por novidade.
A primeira vez que ela chegou o lugar era vazio, uma grossa camada de poeira emcobria os planos Esquecidos pelos cantos, olhou, sorriu e não se demorou. A segunda vez que ela veio abriu todas as janelas, o sol entrou porta adentro e a pequenina moradia encheu-se de vida, já tinha até água fria e lugar para sentar. A terceira vez que ela voltou trouxe um cheirinho bom de feijão fumegando no fogão, de casa habitada, risos soltos pela sala e frases deliciosas de se ouvir: “amar-te é bom de mais.”
Ela voltou outras vezes mais e espalhou pelo comodos outros odores que dá água na boca só de lembrar, que se empregnaram na coxa da cama, nos lençois, nas paredes, que se empregnou em mim e misturou-se com a minha alma, gemidos ecoavam pelo quarto, declarações de amor escritas com baton vermelho nas paredes e muitas digitais pelos corpos.
A ultima vez que ela veio deu um beijo salgadinho daqueles com sabor de lagrima, um coração disparou, extremidades ficaram frias, ela exitou três vezes antes de falar, ascendeu um cigarro a fumaça fez um giro engraçado no ar, ela olhou fixamente como se estivesse tomando coragem, os lábios estremeceram,olhou no fundo dos negros olhos que lhe fitavam e balbuciou alguma coisa que demorou a chegar nos ouvidos, fez-se silêncio, este, foi interrompido por um uivo, uma manifestação de dor,como o de um animal ferido, levantou-se abriu a porta, partiu, deixou uma mulher chorando.




Carmem Lucia dos Santos Ribeiro